História

 

Universidade dos Açores

Pilar Local, Saber Atlântico, Conhecimento Universal

Fundada em 1976, a Universidade dos Açores consolidou-se ao longo das décadas como uma instituição de referência no seio do arquipélago, conseguindo edificar laços científicos e culturais dentro e inter-ilhas. Mas firmou-se também como uma instituição de caráter universalista, potenciando a relevância que a sua natureza atlântica lhe confere: uma verdadeira ponte entre a Europa, as Américas e outras geografias do saber, confirmando que, nela, a Scientia Lucet.

A divisa da Universidade dos Açores Sicut Aurora Scientia Lucet (assim como uma aurora, a ciência brilha) teve inspiração bíblica (Livro de Ben Sira ou Eclesiástico, cap. 24, intitulado "Origem e Importância da Sabedoria").

 

Os antecendentes

Casa de Ponta Delgada

Desde o século XV que o arquipélago dos Açores conhece instituições relevantes para o ensino regional. A par dos fundamentos básicos (ler, escrever e contar), assegurados por frades e sacerdotes, logo a partir do século XVI surgiram as primeiras escolas secundárias nas ilhas, ligadas aos Jesuítas. Os três colégios jesuítas foram os precursores da tripolaridade que a Universidade açoriana iria adotar séculos depois, fundando um Colégio em Angra (em 1570), outro em Ponta Delgada (em 1621) e um terceiro na Horta (em 1652).

A expulsão dos Jesuítas do país, na segunda metade do século XVIII, deixou um vazio científico e escolar nos Açores, só atenuado pelo permanente contributo de outras Ordens Religiosas, nomeadamente dos Franciscanos e Agostinhos, mas que deixarão de poder exercer a sua vocação pedagógica a partir da década de 1830, com o encerramento dos Conventos. Desde então, observam-se novos esforços para alocar nas ilhas entidades ligadas à formação. É o caso da Academia Militar de Angra (1810-1825) e da Escola Médico-Cirúrgica de Ponta Delgada (1836-1844). Na área da formação religiosa, merece destaque a criação do Seminário de Angra, em 1862. Todavia, como nos apercebemos, tratavam-se de entidades com um saber especializado e não universal, que respondiam a aspirações pontuais do Estado e da sociedade portuguesa.

É certo que, nos séculos XIX e XX, a sociedade açoriana encontrava-se cada vez mais sedenta de conhecimentos, de forma a completar o profuso esforço encetado pelas escolas primárias que já mapeavam a geografia de todas as ilhas. A partir da década de 1930, a criação de diversas entidades com vocação cultural comprova a crescente apetência do público açoriano pelas questões da ciência e da cultura. É o caso da Sociedade de Estudos Afonso Chaves, (São Miguel, 1932); do Núcleo Cultural Manuel de Arriaga (Faial, 1939) antecessor do Núcleo Cultural da Horta (1955); do Instituto Histórico da Ilha Terceira (1942); do Instituto Cultural de Ponta Delgada (1943) e do Instituto Açoriano da Cultura (1955), este último fomentador de diversas reflexões intelectuais ilustradas, por exemplo, nas "Semanas de Estudos", também organizadas num circuito tripolar: a de Ponta Delgada, em 1961; a de Angra, em 1963 e a da Horta, em 1964.

O processo de desvitalização do Estado Novo português iria ser fundamental para o amadurecimento da ideia em prol de uma instituição de ensino superior nos Açores, talvez inspirada pela criação da Universidade Nova de Lisboa, em 1973. Com efeito, em 1974, ainda antes do 25 de abril, o governo de Marcelo Caetano criou em Ponta Delgada uma Escola Normal Superior, mas que não teve consequências. Seriam a revolução democrática e as suas consequências na Autonomia regional os elementos chave para a criação da primeira instituição dedicada ao ensino superior nos Açores.

De instituto a universidade

Com o 25 de abril, o processo em prol da Autonomia do arquipélago açoriano ganhou vigor. No contexto conturbado pós revolucionário, a ideia de criar nos Açores uma Universidade ganha corpo em 1975, por via da Junta Regional dos Açores, que pressiona o Governo da República neste sentido.

Assim, a 9 de janeiro de 1976, nasce a desejada instituição de ensino superior, com a designação de Instituto Universitário dos Açores. Obedecendo à genética ilhense, é distribuído pelos três históricos centros regionais: Ponta Delgada, Angra e Horta.

A partir de então, teceu-se a rede universitária com múltiplos fios. A orgânica institucional e administrativa, a contratação de docentes e de investigadores e a definição do tipo de ensino a ministrar foram entrelaçando o atual tecido universitário. Nos inícios, decidiu-se convidar docentes sobejamente reconhecidos nas Universidades portuguesas, fundamentais para credenciar a nova instituição regional, mas também por angariar jovens licenciados e outras individualidades naturais das ilhas, já com experiência científica e académica, para equilibrar os recursos humanos entre a maturidade e as promessas do futuro.

A opção por um semestre introdutório único foi a solução possível e centraram-se os esforços letivos na área da Formação de Professores. Assim, em 1978, a Universidade tinha um único departamento, precisamente direcionado para esta área, num claro objetivo de servir as necessidades profissionais da Região, também esta em processo embrionário da sua Autonomia constitucional. Esta escolha mostrou ser a acertada, pois rapidamente a Universidade alcançou o elevado número de 1.000 alunos.

Para estes, o Instituto Universitário mostrou-se particularmente sensível. A primeira residência para estudantes foi criada logo em 1977 e o crescimento do número de alunos justificou o contínuo aumento de apoios na área social, como residências universitárias e cantinas.

Em 1980, quatro anos depois da sua fundação, o Instituto Universitário dos Açores viu reconhecido todo o seu esforço: rebatizado como Universidade dos Açores, continuaria a desenvolver uma intensa dinâmica, ilustrando a sua capacidade de se adaptar à mudança dos tempos.

Esta dignidade onomástica teve repercussões diversas. Uma delas consistiu na adoção de um novo modelo ao nível da tutela. Até 1980, o Instituto estivera unicamente dependente do Governo da República. A partir de então, a Universidade passa a estar submissa quer ao Governo da República, quer ao Governo Regional dos Açores. Esta dupla tutela manter-se-á até 1994, altura em que a UAc volta a estar unicamente dependente do Governo da República, situação ainda hoje em vigor.

Os reitores

João Luís Roque Baptista Gaspar (1961), natural de Lisboa.

Reitor da Universidade dos Açores entre 2014 e 2022.


Nota biográfica

Licenciado em Geologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em 1985, e doutorado em Geologia, na especialidade de Vulcanologia pela Universidade dos Açores, em 1996. É Reitor da Universidade dos Açores desde fevereiro de 2014.

Foi Diretor do Departamento de Geociências, onde é professor associado com agregação, e fundador do Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos, onde exerce atividades de investigação e coordena a unidade de Gestão de Crises e Resposta a Situações de Emergência para apoio da tomada de decisões de proteção civil. No IX Governo Regional dos Açores foi Diretor Regional da Ciência e Tecnologia e Presidente do Fundo Regional da Ciência e Tecnologia, tendo criado o Sistema Científico e Tecnológico dos Açores e desenvolvido o projeto do Parque Tecnológico de S. Miguel. No X Governo Regional dos Açores foi Diretor Regional do Ordenamento do Território e dos Recursos Hídricos e Presidente da Mesa da Assembleia Geral da SPRAçores - Sociedade de Promoção e Gestão Ambiental, SA. Autor de vários artigos científicos, e relatórios técnico-científicos, participou em vários congressos e é um dos editores do livro “Volcanic Geology of S. Miguel Island, Azores”, em publicação pela Geological Society of London.

Em reconhecimento pelas suas atividades de investigação científica e o seu papel no apoio a ações de proteção civil foi agraciado em 2001 com a Comenda da Ordem de Mérito por Sua Excelência o Presidente da República Portuguesa, Dr. Jorge Sampaio.

Jorge Manuel Rosa de Medeiros (1954), natural da ilha de São Miguel, Açores.

Reitor da Universidade dos Açores de 2011 a 2014.


Nota biográfica

Licenciado em Engenharia Química pelo Instituto Superior Técnico, em 1977, doutorado, em Ciências Químicas, pela Mississippi State University (EUA), em 1986, e pós-doutorado em Química dos Produtos Naturais, pela Washington State University (EUA) em 2001. Foi Pró-Reitor da Universidade dos Açores de 2001 a 2002, Vice-Reitor de 2002 a 2011 e Reitor de 2011 a 2014.

Iniciou a carreira de docente universitário no Instituto Superior Técnico, como monitor (1975/1977). Em 1977 ingressou na Universidade dos Açores, sendo professor catedrático no Departamento de Ciências Tecnológicas e Desenvolvimento desde 2004. Tem desenvolvido atividade científica em várias áreas, em particular, na Química dos Produtos Naturais. Sobre estes temas publicou vários artigos científicos, relatórios e livros e fez diversas apresentações em congressos. Foi fundador e vice-presidente do Instituto de Inovação Tecnológica dos Açores de 1988 a 2001.

Recebeu o prémio "Graduate Student of the Department of Chemistry, Mississippi State University" em 1982 e pertence a várias sociedades honoríficas como Mu Sigma Chi (EUA) ou Phi Lambda Upsilon (EUA). Em 2014 foi agraciado com a Insígnia Autonómica de Reconhecimento pela Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.

Avelino de Freitas de Meneses (1958), natural da ilha Terceira, Açores.

Reitor da Universidade dos Açores entre 2003 e 2011.


Nota biográfica

Licenciado em História, em 1981, e doutorado em História Moderna e Contemporânea pela Universidade dos Açores, em 1992. Foi Reitor da Universidade dos Açores entre 2003 e 2011.

Professor catedrático do Departamento de História, Filosofia e Ciências Sociais da Universidade dos Açores, foi presidente da Assembleia Geral do CHAM das Universidades Nova de Lisboa e Açores (2008-14). Presentemente exerce funções de Secretário Regional da Educação e Cultura do Governo dos Açores. É autor, coautor ou organizador de 14 livros e autor de uma centena de artigos, que evidenciam a contribuição dos Açores para a projeção de Portugal no Mundo, desde o advento dos descobrimentos. Da História, possui um sentido utilitário, pois é uma ciência da atualidade, embora possua por objeto a reconstituição das vivências de outrora. Na verdade, a análise do passado é um meio de entendimento do presente e um auxiliar de planeamento do futuro.

Em reconhecimento pelas atividades de investigação científica e de gestão universitária, foi agraciado com a Insígnia Autonómica de Reconhecimento em 2009 e com a Grã Cruz da Ordem da Instrução Pública em 2011.

Vasco Verdasca da Silva Garcia (1939), natural de Carcavelos.

Reitor da Universidade dos Açores entre 1995 e 2003.


Nota biográfica

Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade de Coimbra e doutorado em Biologia Aplicada (Marselha) e pela Universidade dos Açores. Foi um dos fundadores do Instituto Universitário dos Açores, em 1976, e Reitor da Universidade dos Açores de 1995 a 2003.

Foi investigador em Angola e em França. Fundador e Diretor do Laboratório de Ecologia Aplicada e, depois, do Departamento de Biologia da Universidade dos Açores, onde foi professor catedrático desde 1984. Foi Deputado Regional na II Legislatura (1980-84), Deputado Nacional (1985) e Deputado Europeu (1986 a 1994). É autor de cerca de 80 artigos e trabalhos científicos em revistas nacionais e estrangeiras e do livro "Os Açores e a Europa do Futuro", publicado em [1990], e de várias centenas de relatórios especializados e artigos de opinião, a nível técnico-científico e político, colaborando ativamente na Comunicação Social dos Açores. Foi examinador ou vogal em mais de 100 júris académicos de agregação, doutoramento, mestrado, provas de acesso e concursos e participou em mais de 50 congressos nacionais e internacionais. Entre 1991/95 e 2003/07, dirigiu o Centro de Estudos de Relações Internacionais e Estratégia (CERIE) da Universidade dos Açores. Foi representante do Ministério da Ciência e do Ensino Superior na Comissão Bilateral Portugal/EUA, entre 2003 e 2007. De 2004 a 2007, foi Presidente do Conselho Nacional para a Ação Social do Ensino Superior. É Presidente da Direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada (AHBVPD), desde Janeiro de 2007, e Presidente da Assembleia Geral da Federação de Bombeiros dos Açores, desde Fevereiro de 2009.

Foi agraciado com a Insígnia Autonómica de Reconhecimento, em 2009.

António Manuel Bettencourt Machado Pires (1942), natural da ilha Terceira, Açores.

Reitor da Universidade dos Açores entre 1982 e 1995.


Nota biográfica

Licenciado em Filologia Românica e doutorado em História da Cultura Portuguesa pela Universidade dos Açores em 1979. Vice-Reitor da Universidade dos Açores de 1981-1982, na área de Humanidades, e Reitor entre 1982 e 1995.

Foi docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e do Departamento de Línguas e Literaturas Modernas da Universidade dos Açores que criou e onde foi professor catedrático. Enquanto reitor organizou instalou a Universidade, cujo Estatuto foi aprovado em novembro de 1990. Durante os treze anos de reitorado, a Universidade afirmou a sua estrutura orgânica departamental tripolar e respectivos órgãos de governo. Foi por sua iniciativa, e em colaboração com o Instituto Superior Técnico, que foi criado o Departamento de Ciências Tecnológicas e Desenvolvimento. Ocupou-se de autores e temas do Século XIX em Portugal e da obra de Vitorino Nemésio, de quem foi assistente na Faculdade de Letras de Lisboa. Fundou a Revista Arquipélago, criou o primeiro Mestrado da Universidade dos Açores, em Literatura e Cultura Portuguesa, e fundou o SIEN - Seminário Internacional de Estudos Nemesianos, que levou a cabo vários Congressos Nemesianos. Assinou Convénios com a Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil) e La Laguna (Canárias), entre outros. Fez publicar vários números da Revista Arquipélago e também incentivou a publicação, pela UAc, de teses de Mestrado e Doutoramento.

Foi agraciado com a Medalha Brasileira dos 25 Anos da Universidade de Santa Catarina (Brasil), com o grau de Grande-Oficial da Ordem de Instrução Pública, em 1988, e com a Insígnia Autonómica de Reconhecimento, em 2009.

José Enes Pereira Cardoso (1924-2013), natural da ilha de Pico, Açores.

Reitor da Universidade dos Açores entre 1976 e 1982.


Nota biográfica

Licenciado em Teologia e em Filosofia, pela Universidade Gregoriana de Roma e doutorado em Filosofia pela mesma universidade com a distinção máxima (Summa Cum Laude e Medalha de Ouro). Foi o fundador da Universidade dos Açores, como líder do grupo de trabalho para a fundação do ensino universitário na Região e primeiro Reitor do Instituto Universitário dos Açores, criado em 1976, cargo que continuou a exercer aquando da passagem deste a Universidade dos Açores, em 1980.

Intelectual de referência no pensamento português contemporâneo, a sua vastíssima obra integra temas de Filosofia, Política, História, Relações Internacionais e Estratégia e Poesia.

Doutor Honoris Causa pela Rhode Island University, a relevância do seu trabalho foi reconhecida publicamente ao ser distinguido com os graus de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e Grande-Oficial da Ordem de Instrução Pública.

A casa na Terra-Chã

Em 1976, o então Instituto Universitário dos Açores, com campus na ilha Terceira, instalou o Departamento de Ciências Agrárias no edifício do Hospital Militar localizado em frente à igreja paroquial da Terra-Chã. Este Hospital fora fundado em 1943, para apoiar os militares do Corpo Expedicionário português e os militares ingleses que estavam na ilha Terceira, no contexto da Segunda Guerra mundial. Em 1946, com o fim deste conflito, o Hospital Militar passou para a tutela da Força Aérea Portuguesa. Durante a década de 1960, o Hospital da Terra-Chã foi o local por onde passaram muitos militares feridos no contexto de um outro conflito, a Guerra Colonial Portuguesa, e manteve a sua atividade hospitalar até 1975, quando foi extinto. No ano seguinte, passaria a albergar o recém-nascido campus terceirense, que aqui ficaria por mais de trinta anos.

Em 2010, o campus de Angra seria beneficiado com novas instalações no Pico da Urze, nomeadamente com um edifício interdepartamental com gabinetes para os docentes, laboratórios e serviços administrativos. As antigas instalações da Terra-Chã ficaram, assim, para trás, fazendo parte do conjunto de edifícios a recuperar no âmbito do processo de construção do futuro Parque Tecnológico da ilha Terceira, onde se integrará o Centro de Biotecnologia da Universidade dos Açores.

A casa na Horta

Casa da Horta

Na ilha do Faial, ficou adstrito o Departamento de Oceanografia e Pescas. Os seus investigadores foram-se adaptando a vários espaços, primeiro em antigos balneários públicos, depois nas camaratas da Marinha e em pré-fabricados. Apesar destas precariedades, o Departamento de Oceanografia e Pescas beneficiava da sua localização privilegiada junto ao porto da Horta. Todavia, as crescentes necessidades dos investigadores tornaram imprescindível a procura de um lugar mais adequado às tarefas universitárias.

O espaço escolhido foi o antigo Hospital da Santa Casa da Misericórdia da Horta, que fora inaugurado em 1903. Em 1921, este Hospital é rebatizado em homenagem a Walter Bensaúde, falecido um ano antes, gestor da Casa Bensaúde E C.ª e benfeitor na ilha do Faial. Propriedade da Misericórdia faialense, o imóvel é comprado pela Fundação Gaspar Frutuoso e o projeto de reestruturação arquitetónica começa a ser pensado desde 2007. A sua recuperação fica concluída a 9 de janeiro, data em que o Departamento de Oceanografia e Pescas é transferido para as suas novas instalações no centro urbano da Horta, onde se encontra atualmente.